O que é a Síndrome do Túnel do Carpo (STC)?

É uma condição na qual o nervo mediano é comprimido ou irritado quando passa pelo punho. A passagem é feita por um canal, por natureza já bastante estreito, podendo ocorrer aumento da pressão no túnel e subsequente compressão do nervo por diversos motivos. O nervo mediano controla alguns dos músculos que movem o polegar e leva informações de volta ao cérebro relativas a sensações experienciadas no polegar e dedos.

É a neuropatia de compressão do nervo mais comum, representando 90% de todas as neuropatias registadas.

A STC geralmente ocorre entre os 36 e 60 anos e é mais comum em mulheres, 50 a 60% dos casos são bilaterais. A sintomatologia em ambas as mãos aumenta em frequência com a duração dos sintomas.

Quais as causas mais comuns?

A STC pode ser devida a condições que levam à diminuição no tamanho do túnel ou a situações patológicas que levam ao aumento do conteúdo que passa no túnel. Destacam-se como principais causas:

  •  Predisposição genética;
  •  Movimentos repetitivos mão e punho, como digitação ou trabalho com máquinas;
  •  Obesidade;
  •  Diabetes;
  •  Traumas repetitivos nesse local e história de fraturas do punho;
  •  Tumor;
  •  Hipotireoidismo;
  •  Disfunções da coluna cervical (níveis de inervação);
  •  Distúrbios autoimunes, como como artrite reumatoide e gravidez.

De uma forma geral, a fisiopatologia da STC resulta de uma combinação de mecanismos de compressão e tração.

Quais os sintomas mais comuns?

Os primeiros sintomas incluem dor, dormência e parestesias (formigueiro). As alterações sensitivas e parestesias na mão podem apresentar alguma variabilidade, podendo abranger o polegar, dedo indicador, dedo médio e metade radial (lado do polegar) do dedo anelar.

Com a progressão da condição, pode ocorrer dor noturna, fraqueza nas mãos, diminuição da coordenação motora fina (como escrever, digitar), diminuição da força de preensão, mobilidade reduzida do punho e atrofia muscular.

Como tratar esta condição?

Para tratar esta condição é necessário um bom diagnóstico diferencial, uma vez que devemos ter em consideração todas as condições que podem potencialmente causar uma disfunção do nervo mediano ou as suas contribuições no plexo braquial, nas raízes nervosas de C5 a C8 e no sistema nervoso central.

A avaliação é de extrema importância, devendo incluir testes para deficits sensoriais e motores e evidências de atrofia muscular. Neste contexto a avaliação não só incorpora a região do canal cárpico mas todo o trajeto do nervo mediano. Libertando a pressão do nervo e melhorando a sua mobilidade, quer na sua origem radicular (cervical, locais de conflito do plexo braquial), quer em outros locais da sua passagem (p.ex. cotovelo), é que poderemos minimizar a sintomatologia da STC.

Pacientes com sintomas leves a moderados podem ser efetivamente tratados. Em casos de sintomatologia mais leve, alterações simples na prática laboral podem ser benéficas no controlo dos sintomas. Os fisioterapeutas devem aconselhar sobre modificações nas atividades diárias e ergonômicas, modificação de tarefas, repouso e variação de movimentos.

Em clinica, dentro da Fisioterapia mais especializada, uma abordagem global será fundamental, assumindo as técnicas de terapia manual, fisioterapia invasiva e fisiatria de intervenção especial destaque. A abordagem deverá centrar-se no trabalho dos músculos diretamente relacionados com o problema, não só na mão, mas também na coluna cervical e em ambos os membros superiores, com o intuito de melhorar a mobilidade do nervo mediano. Mobilização dos ossos do carpo e estruturas moles adjacentes, assim como, a mobilização do tecido nervoso (nervo mediano) são estratégias que têm demonstrado resultados impactantes.

No contexto da Fisioterapia invasiva destacamos a Electrólise Percutânea Intratecidular (EPI®), técnica biológica que visa interferir nos processos naturais de regeneração dos tecidos e, a Neuromodulação Percutânea Ecoguiada (NMPe) que é uma técnica que através de um estímulo elétrico é capaz de alterar a condução nervosa (são exemplos, sensações de dormência e formigueiro).

A Hidrodissecção com guia ecográfico é uma modalidade de tratamento integrada na Fisiatria de intervenção, que consiste na aplicação de soluções biológicas em torno do nervo mediano através de agulha orientada ecograficamente, a solução inserida irá aumentar o espaço dentro do túnel aliviando os sintomas.

Estas intervenções são objetivadas no alívio dos sintomas a longo prazo, procurando resultados permanentes, impedindo a progressão da patologia, de modo a evitar a intervenção cirúrgica.

– Artigo escrito pelo Fisioterapeuta Tiago Ferrete.

 

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