Posição correta para evacuar. O que deve saber?
Provavelmente nunca pensou no assunto, mas saiba que a dificuldade em esvaziar o intestino, pode ser, na realidade, sinal de uma disfunção.
Urinar e evacuar são respostas fisiológicas do nosso organismo, tal como fazer a digestão. E se este último é um processo que acontece sem que façamos nada em concreto para o cumprir, porque é que evacuar, sendo também uma resposta normal do nosso corpo, necessita que se produza (excesso) de força, que se tomem laxantes, que se recorram a “mesinhas” em termos de alimentação e chás? Na verdade, esta dificuldade pode resultar de fatores alimentares e físicos e, a esta dificuldade dá-se o nome de Obstipação ou prisão de ventre, como é comumente designada.
Vamos retomar um pouco ao início da nossa existência: durante séculos, os nossos antepassados, procuravam recantos escondidos na natureza para fazer as necessidades. O corpo humano foi configurado para evacuar agachado. Basta pensarmos nas crianças, quando ainda usam fralda, que adotam a posição agachada para evacuar enquanto brincam. Mais tarde, e por medidas higiénicas, foram criadas as sanitas com um sistema de descarga e em pouco tempo, o povo Ocidental passou a sentar-se na sanita para fazer as necessidades. A par dessa modernização, surgiu o aparecimento de problemas intestinais como hemorróidas, obstipação, cancro do cólon, diverticulite, entre outros. Isto porque, efetivamente, quando nos sentamos na sanita, o ângulo formado entre a coxa e o tronco forma cerca de 90º e, em termos físicos, o que ocorre é que o músculo puboretal, que envolve a ampola retal (ou a parte final do intestino) fica demasiado rígido e numa posição sem vantagem mecânica, que é como quem diz: comprime o intestino e dificulta a descida das fezes. Já na posição de cócoras, conseguimos diminuir este ângulo, que em bom rigor se chama ângulo ano-retal, para cerca de 30º, que favorece o relaxamento do músculo puboretal, permitindo que a porção terminal do intestino, a ampola retal, assuma uma posição mais verticalizada e por consequência uma descida quase passiva das fezes.
Desta forma o intestino esvazia mais rápida e completamente, sem que tenhamos de produzir força para o efeito. Então, por forma a adotar a posição correta para evacuar usufruindo da evolução que hoje conhecemos – as sanitas – a sugestão é simples e eficaz, onde a regra é manter os joelhos mais elevados em relação à coxa. Na prática, pode servir-se de uma caixa de sapatos, de um banquinho, ou de outra qualquer superfície onde possa apoiar os pés e que simule a postura de cocóras mesmo quando se está sentado na sanita. Outra sugestão importante a somar à anterior: o desejo de evacuar dura cerca de 3 minutos. Sentimos desejo de evacuar quando as fezes, hidratadas, chegam à ampola retal e desencadeiam a resposta de “tenho de ir à casa de banho”. É durante este tempo que devemos responder positivamente a este desejo. Caso se adie a vontade de evacuar, o que acontece é que a ampola retal é um local de passagem e não de armazenamento, logo, as fezes que estavam moldadas e hidratadas, prontas a ser evacuadas, passam a um estado mais duro e ressequido, não deslizando adequadamente no intestino. A médio/longo prazo, as consequências de adiar constantemente a vontade de esvaziar o intestino (adotando o comportamento de “vou à casa de banho quando chegar a casa” – 8 horas depois do desejo de evacuar) resulta numa ampola retal dilatada, em hiperatividade dos músculos do pavimento pélvico, incluindo o músculo puboretal, inversão de ordem perineal, entre outros, porque são, efetivamente, estruturas que todos os dias são sobrecarregadas com excesso de peso e pressão. Se sente dificuldade em esvaziar o intestino, sensação de esvaziamento incompleto, se tem hemorroidal ou fissuras anais, dor nas relações sexuais, incontinência urinária, prolapso dos órgãos pélvicos, se está grávida, se foi mãe há pouco tempo, se fez uma cirurgia abdominal, lombar ou pélvica, ou se quer manter saudável o seu intestino e pavimento pélvico, experimente evacuar assumindo a posição fisiológica e perceba o quão mais fácil é evacuar. Além disto, beber água (as recomendações apontam para cerca de 1,5L por dia), preferir alimentos como frutas e legumes ao invés de alimentos processados e respeitar o desejo de evacuar são as medidas-chave para manter o seu corpo e intestino em equilíbrio.
Não obstante, o excesso de oclusão anal causado por disfunção do músculo puboretal e esfíncter anal externo, pode necessitar de intervenção de técnicas manuais, miofasciais e biofeedback para reduzir os sintomas associados assim como estabilizar a dinâmica defecatória.