O exercício físico e o risco de quedas em idosos: Uma correlação negativa?

De acordo com a organização Pan-Americana, o envelhecimento é “um processo sequencial, individual, irreversível, universal, próprio a todos os membros de uma espécie (…)”. A esperança média de vida tem vindo a aumentar, intensificando, assim, o envelhecimento, o que o torna um dos fenómenos demográficos que mais preocupa as sociedades modernas, observando-se em 2011 que por cada 100 jovens existia 128 idosos.

Ao longo do tempo, alterações anatómicas e fisiológicas, características do envelhecimento, vão se sucedendo. A sarcopenia – perda degenerativa da massa muscular – vai aumentando e a instabilidade/desequilíbrios serão cada vez mais visíveis, devido às modificações que ocorrem tanto no sistema sensorial como no sistema motor. Logicamente, estas alterações vão conduzir o indivíduo a maior risco de queda.

Aproximadamente 30% das pessoas, com mais de 65 anos, têm uma queda acidental por ano e 15%, pelo menos, duas vezes por ano, sendo a mulher o sexo mais predisponente a cair, em indivíduos dentro da mesma faixa etária.

Nos EUA, no ano de 2000, registaram-se cerca de 10.300 mortes e 2,6 milhões de lesões, reabilitadas clinicamente, resultantes de quedas em indivíduos com mais de 65 anos. O local com maior incidência de fraturas é ao nível da anca que, nos últimos 50 anos, aumentou exponencialmente. No entanto, fraturas da parte proximal do úmero, parte distal do antebraço e bacia, devido a um trauma de baixo impacto, também são relatadas.

Os idosos que sofreram uma queda tendem a isolar-se e a restringir as suas atividades diárias devido às consequências, normalmente, implícitas: fraturas, dor, incapacidade, disfuncionalidade e medo.

Os fatores de risco associados às quedas podem ser divididos em dois grupos:

Fatores intrínsecos:

idade avançada, etnia caucasiana, sexo feminino;

perda de força muscular;

falta de equilíbrio;

alterações no padrão de marcha;

perdas funcionais e cognitivas;

deficit visual;

medicação (uso de benzodiazepínicos, sedativos, antidepressivos, antihipertensivos, diuréticos);

diminuição da mobilidade;

aumento do tempo de reação.

Fatores extrínsecos:

iluminação;

superfícies irregulares;

condições do piso;

calçado inadequado;

risco das atividades que o indivíduo realiza;

tapetes/ obstáculos no solo.

Os fatores de risco também podem ser delimitados em fatores modificáveis e não modificáveis. Os fatores de risco modificáveis são aqueles que se podem intervir e alterar; já os fatores de risco não modificáveis podem ser considerados marcadores futuros de riscos de queda pois não se conseguem modificar.

Várias revisões sistemáticas, apelam ao exercício físico como sendo o ponto-chave para a diminuição do risco de quedas em idosos e melhoria da sua qualidade de vida. Exercícios vocacionados para aumento da força muscular global, com transfer para as atividades diárias, aumento da mobilidade e estabilidade e diminuição do tempo de reação deverão ser implementados. Num estudo de Mat et al. (2015), apela-se, ainda, aos exercícios aeróbios e de resistência reportando melhorias ao nível da marcha.

Todavia, é fundamental ter em atenção que embora sejamos seres pensantes, racionais, bípedes e criativos – “todos iguais” – somos também todos diferentes. Diferentes na forma como pensamos, nos objetivos a que nos propomos, nas habilidades e competências que possuímos, na forma como percecionamos as situações do dia-a-dia, no mindset que temos, na capacidade cardiovascular. Portanto, é crucial também, nestes casos, traçar um plano de treino que comporte, dentro de um leque possibilidades, os objetivos, medos e receios, limitações e capacidades do (nosso) idoso.

Embora o exercício físico realizado de forma regular no ginásio neutralize os efeitos negativos do envelhecimento e aumente o estado de saúde físico e mental, é, expectável, que haja idosos que não se sintam seguros. Dessa forma, é essencial que nos adaptemos ao nosso cliente. Portanto, o trabalho aquático poderá ser uma estratégia empregue uma vez que o ambiente aquático é de baixo impacto, baixo peso, o risco de queda é nulo e poderão ser treinadas componentes como o equilíbrio, a coordenação, a força, a mobilidade e a velocidade de execução dos movimentos.

Na FISIOGlobal, de forma a potenciarmos os nossos utentes, disponibilizamos de acompanhamento individualizado e, altamente, direcionado aos objetivos do mesmo tanto no ginásio, através da Human Performance, como no meio aquático (hidrotanque), sempre sob orientação de um fisioterapeuta.

Bibliografia:

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Cunha, P., & Pinheiro, L. (2016). O papel do exerci?cio fi?sico na prevenc?a?o das quedas nos idosos: uma revisa?o baseada na evide?ncia. Revista Portuguesa de Medicina Geral Familiar, 32, 96–100.

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Karlsson, M. K., Vonschewelov, T., Karlsson, C., Cöster, M., & Rosengen, B. E. (2013). Prevention of falls in the elderly: A review. Scandinavian Journal of Public Health, 41, 442–454. https://doi.org/10.1177/1403494813483215

Martin, J. T., Wolf, A., Moore, J. L., Rolenz, E., Dininno, A., & Reneker, J. C. (2013). The Effectiveness of Physical Therapist – Administered Group-Based Exercise on Fall Prevention?: A Systematic Review of Randomized Controlled Trials. Journal of Geriatric Physical Therapy, 36(4). https://doi.org/10.1519/JPT.0b013e3182816045

Mat, S., Tan, M. P., Kamaruzzaman, S. B. B., & Ng, C. T. (2015). Physical therapies for improving balance and reducing falls risk in osteoarthritis of the knee?: a systematic review. Age and Ageing, 44, 16–24. https://doi.org/10.1093/ageing/afu112