Uma Modalidade Desportiva pode ser definida como um fenómeno sociocultural, que envolve a prática voluntária de atividade predominantemente física, que pode ser ou não competitiva com finalidade recreativa ou profissional, que contribui para a formação, desenvolvimento e/ou aperfeiçoamento físico, intelectual e psíquico.

Por Treino deve entender-se a existência sistematizada de um conjunto de ações, executadas de forma planeada a médio, curto e longo prazo para que se atinja um determinado fim.

Bem diferente será por exemplo a Atividade Física pois esta remete para qualquer movimento que seja executado pelo sistema músculo-esquelético com gasto energético (por exemplo caminhar), sem que exista um objetivo concreto a atingir.

Defendemos que qualquer jovem, principalmente até aos 14-16 anos, deva estar envolvido na prática de uma determinada modalidade desportiva, mas também envolvido em estratégias que visem o treino específico de determinadas competências motoras que não são abordadas na modalidade desportiva.

Sejamos honestos e práticos. O treinador de uma modalidade desportiva tem o propósito de ensinar os seus atletas a jogar essa modalidade. Um jovem que pratique basquetebol aprenderá as regras do jogo e tarefas específicas dessa modalidade. Consideramos que esta realidade afasta o jovem do contacto com experiências motoras diversificadas que são basilares ao seu correto desenvolvimento neuromotor.

Mais do que observarmos um jovem muito capaz na execução de uma determinada modalidade desportiva (por exemplo ser muito bom a jogar futebol), idealmente esse jovem deveria ser muito bom no domínio de competências motoras tidas como elementares. Tal não se verifica sempre, uma vez que é perfeitamente possível observarmos um jovem que joga muito bem futebol, mas que é “analfabeto” do ponto de vista motor noutras dimensões físicas. Até determinada idade, a nível motor, tal como noutras dimensões (p.e: social e cognitiva), o propósito deve ser garantir uma aquisição diversificada de estímulos basilares ao correto desenvolvimento motor do jovem, para que, no futuro, caso pretenda, possa com sucesso realizar tarefas motoras mais complexas.

Fazendo uma analogia, não é lógico vermos um jovem que aprende só matemática. Para que cognitivamente evolua de forma adequada necessita de ser estimulado em diversas frentes. Acontece o mesmo em termos motores. Se o jovem é estimulado sempre da mesma forma (p.e: basquetebol) não irá, com certeza, evoluir em termos motores como seria desejado.

Defendemos acerrimamente a prática de uma ou mais modalidades desportivas, mas, também defendemos o treino concomitante de competências motoras que não são exploradas nessa(s) modalidade(s) desportiva(s). Sem existir ciência que defina o melhor cenário, podemos referir o treino da modalidade desportiva 3x semana + 2x semana o treino especifico de competências motoras.

Acreditamos que dúvidas existirão sobre o impacto que isto poderá ter na evolução do jovem numa determinada modalidade desportiva. Pensamentos como “…se o meu filho não treinar mais vezes basquetebol ele será sempre mediano…” Pois bem, não defendemos a especialização precoce. Defendemos a criação de oportunidades que estimulem adequadamente o jovem. Quando este apresentar experiência motora e maturidade suficiente para se especializar numa determinada tarefa, esse será o momento. A chegada desse momento raras vezes ocorre antes dos 14-15 anos…

Será preferível, apesar de naturalmente ser discutível, observarmos um jovem robusto e experimentado em termos de aprendizagem motora do que um jovem robusto e experimentado numa modalidade desportiva específica. O primeiro será com toda a certeza melhor atleta do que o segundo e talvez o segundo possa ser melhor jogador que o primeiro. Ainda assim, a probabilidade de o primeiro evoluir rapidamente num curto espaço de tempo é deveras superior à evolução que o segundo poderá vir a ter, precisamente porque o primeiro apresenta, em teoria, bases muito mais sólidas nas suas competências motoras.

Existem, atualmente, locais que se dedicam ao estudo e treino destas competências motoras. Não se treina futebol, natação, ténis ou basquetebol. Treina-se tudo o que potenciará o jovem a ser melhor na sua modalidade desportiva. Treina-se o básico sempre que necessário e potencia-se o individuo sempre que este esteja preparado para tal.

Um desses locais é a FISIOGlobal.

Não nos esqueçamos, porém, que um jovem (principalmente pré-púbere) não é um adulto em miniatura, pelo que planear/pensar um treino para um jovem, não é de todo similar ao planeamento de um adulto.

Um abraço da sua equipa multidisciplinar

A FISIOGlobal

– Artigo escrito pelo Ft. Ricardo Amorim

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