Dor lombar no jovem desportista
A procura pela boa saúde física e psicológica e pelo bem-estar pessoal é cada vez mais frequente na sociedade actual. Por assumir um papel fundamental na qualidade de vida, a actividade desportiva tem feito parte do dia-a-dia das crianças, jovens e adultos.
No entanto, quer em indivíduos desportistas quer na população em geral é frequente o aparecimento de quadros dolorosos na coluna lombar. A Organização Mundial da Saúde (OMS) chega mesmo a salientar que 80% da população mundial tem ou terá lombalgia (dor lombar).
A coluna vertebral é uma estrutura mecânica e biológica muito complexa, com grande resistência e capacidade de absorção de stresses mecânicos. No entanto, estas competências podem adulterar-se com o aparecimento de pequenas lesões, quer durante a adolescência quer na idade adulta.
A lesão causada pela prática de uma modalidade desportiva define-se como “uma lesão tecidular que se produz como o resultado da participação em exercícios físicos ou desportivos. No entanto, esta terminologia poderia aplicar-se a toda a lesão que resulta de qualquer actividade física, entendendo esta, como a mobilização ou utilização de estruturas anatómicas e fisiológicas do corpo”.
Em 2007, estimava-se que a dor lombar em jovens atletas ocorria entre 10% a 15%, mas, num artigo de 2015, salienta-se que a taxa de prevalência de lombalgia varia entre 1% a 40%, sendo mais predisponente nos atletas praticantes de:
remo;
golf;
natação;
ginástica;
voleibol;
andebol;
futebol americano;
weight lifting.
Etiologia das dores na coluna lombar:
A etiologia das lesões a nível lombar no jovem desportista deve-se a factores intrínsecos:
idade, peso e altura;
histórico de lesões anteriores;
relação de estabilidade-mobilidade-força;
alterações biomecânicas;
factores emocionais e mentais (depressão, ansiedade, distúrbio do sono).
e extrínsecos:
hábitos alimentares;
hábitos tabágicos e alcoólicos;
metodologia do treino;
variáveis do jogo (condições climatéricas, solo, adversários).
Fatores de risco:
O treino de uma modalidade desportiva de alto volume e intensidade, com gestos repetitivos, nomeadamente de flexão-extensão com rotação lombar, pode gerar desequilíbrios entre os músculos agonistas e antagonistas, que desencadeará mudanças posturais (= maior risco de lesões).
Estas adaptações estruturais incorrectas vão obrigar ao corpo esforço extra, sobrecarregando-o e gerando maior carga sobre as articulações. A biomecânica articular vai alterar-se assim como a eficiência neuro-musculo-ligamentar, que são cruciais na manutenção do equilíbrio articular e muscular.
Também, na ênfase das lesões/dores lombar podem estar factores como:
trauma directo ou indirecto;
a utilização inadequada do calçado, que afeta a transmissão de forças;
a sobrecarga nos músculos lombares;
a falta de estabilidade dinâmica dos multífidos, transverso abdominal e quadrado lombar;
o atraso na activação do transverso abdominal aquando o movimento consciente das extremidades;
o défice de sinergia entre os músculos reto abdominal, quadrado lombar e região pélvica, importante na relação lombo-pélvica e dos membros inferiores.
(no entanto, é essencial ter em atenção que infecções e tumores podem, obviamente, despoletar dor lombar).
Então, a incidência de lesões em desportistas é maior que na população não-desportista? Claro que não. Em termos comparativos, vários estudos evidenciam que indivíduos não praticantes de actividade física têm maior predisposição e taxas mais altas de dor lombar em relação a atletas.
Mas, como vimos acima, é importante ter em consideração que atletas, nomeadamente de alto-rendimento, estão sujeitos a frequências e intensidades de trabalho elevadas e magnitudes e localizações de cargas diferentes, sendo mais predisponentes ao aparecimento de dores na região lombar.
Reabilitação e return-to-play:
No processo de reabilitação e readaptação desportiva, é necessário estudar a incidência, a etiologia e o processo de tratamento da lesão/ dor, de uma forma muito peculiar e individual. A carga, a intensidade e a frequência de trabalho, assim como a metodologia de treino e o gesto desportivo variam, dentro da mesma modalidade desportiva, de atleta para atleta.
Ainda existe uma ampla gama de artigos publicados que apoia o uso da terapia de calor e frio em conjunto com opióides, anti-inflamatórios não-esteroides e/ou relaxantes musculares para redução da dor lombar. No entanto, é fundamental entender que, a curto prazo, este tipo de terapias pode actuar, de facto, na redução da sintomatologia dolorosa, mas não promove a correcta funcionalidade musculo-ligamentar.
Em contrapartida, um processo de reabilitação baseado no exercício clínico (exercícios de controlo motor, estabilidade e força; treino da capacidade aeróbia e treino do gesto desportivo), na educação ao paciente e na terapia manual previne recidivas, restaura a função e reduz o quadro de dor.
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