Definição

As cefaleias tensionais (CT) são o tipo mais comum de cefaleia benigna. Estas podem afetar o quotidiano da pessoa, desde o trabalho, à escola e à vida doméstica 1. A CT pode resultar em dias de trabalho perdidos e diminuição da qualidade de vida 2. São normalmente, caracterizadas pela frequência com que um indivíduo as experiencia ao longo de um mês. A origem ou causa subjacente às CT ainda é desconhecida.

A dor da CT geralmente é leve a moderada e costuma ser descrita como compressiva. Originam-se na região occipital ou frontal bilateral e difundem-se por toda a cabeça. Ao contrário das enxaquecas, as CT’s não são acompanhadas de náuseas e vómito e não são agravadas por atividade física, luz, sons e cheiros.

Prevalência

As CT´s são o tipo de cefaleia mais prevalente. Os últimos estudos mostram que aproximadamente 38% dos indivíduos tiveram um episódio de CT ao longo do ano 1, 2, 3.
– As mulheres são mais propensas a experimentar CT em todas as raças e faixas etárias.
– Há também uma correlação positiva entre níveis educacionais e prevalência de CT, sendo os estudantes do ensino superior os mais vulneráveis 1.
– Geralmente as CT começam na adolescência do indivíduo, atingindo um maior pico entre os 30 e 39 anos de idade 1.

Tipos de Cefaleia Tensional – sintomas

As cefaleias do tipo tensional podem ser episódicas (ocasionais) ou crónicas:

Episódica ocorre menos de 15 vezes ao longo de 1 mês.
Pode durar algumas horas a vários dias.
Tipicamente inicia-se várias horas após o despertar e piora ao longo do dia.
São frequentemente bilaterais, mas podem ser unilaterais.
Podem variar de intensidade (leve a moderada) e não apresentam nenhum dos sintomas associados às enxaquecas.

Os pacientes reportam normalmente sintomas como: sensação de aperto ou pressão ao redor da cabeça e/ou pescoço.

Crónica – carateriza-se por persistência dos sintomas por 15 dias ou mais, num mês ou três meses consecutivos.
Devido à sua intensidade moderada a grave, este tipo de CT são mais debilitantes que as episódicas.
Podem ter intensidade variável durante o dia, mas estão quase sempre presentes.
Além de sentirem pressão ao redor da cabeça e/ou pescoço, os pacientes referem também náuseas leves.

Comorbilidades associadas: Transtorno de ansiedade generalizada 5, 6; Depressão 7; Prejuízo na qualidade de vida e habilidades funcionais 6,; Ideação suicida 8; Demência 9.

Etiologia/ Causas

Como referido anteriormente, a real causa das CT ainda não é clara.
Acreditava-se que as CT poderiam dever-se a fatores de stress psicológico ou hipertonia (“rigidez”/tensão) da musculatura do ombro, pescoço e mandíbula.
Atualmente essas teorias foram rejeitadas 2 e considera-se que as CT resultem de desequilíbrios dos neurotransmissores (incluindo a serotonina). Estudos recentes, procuram descortinar o que poderá causar as flutuações nos neurotransmissores, mas já se levanta a hipótese de que esses desequilíbrios estão a ativar vias de dor no cérebro.
Parece existir uma associação entre tensão muscular e alterações nos neurotransmissores, mas ainda é precoce avançar se são os músculos tensos que estão a causar a flutuação nos neurotransmissores ou vice-versa 10.

Lista de possíveis fatores desencadeadores de CT:
(segundo o Centro Médico da Universidade de Maryland) 10

  • Stress;
  • Depressão;
  • Ansiedade;
  • Cabeça mantida na mesma posição por longos períodos;
  • Dormir em posições desconfortáveis ou em ambientes mais frios;
  • Tensão ocular;
  • Consumo de drogas ou álcool;
  • Cansaço excessivo;
  • Distúrbios do sono;
  • Traumas recentes na cabeça ou pescoço, ou mesmo, anos após lesão;
  • Saltar refeições;
  • Problemas na Articulação Temporo-Mandibular (ATM) e Bruxismo;
  • Medicação, incluindo alguns para as cefaleias (efeito rebound CT);
  • Artrite;
  • Alterações hormonais (mais comum nas mulheres).

Envolvimento sistémico

A recorrência exagerada à medicação para controlar a dor associada às CT, é habitual, desencadeando efeitos comuns associados à sua utilização generalizada.
Estão descritos como efeitos colaterais: úlceras gastrointestinais, dor abdominal, dor de estômago, cólicas, náuseas, diarreia, azia, hemorragia, edema, obstipação e gases.
Um outro efeito associado ao uso exagerado deste tipo de medicação é um aumento dos sintomas de dor de cabeça. Por vezes, algum tempo após a toma, os sintomas agravam ao invés de diminuir. Nestes casos deve procurar ajuda médica qualificada 10.

Tratamento médico
(melhor evidência atual)

Devido à falta de conhecimento quanto à etiologia das CT´s, indicar o tratamento mais adequado torna-se mais difícil. No entanto, é consensual na comunidade médica incorporar a educação do paciente, modificações no seu estilo de vida (p.e: deixar de fumar) e medicação com boa relação custo-benefício, no seu plano de tratamento 11.
Embora a medicação seja finita na sua capacidade de tratar a causa subjacente às CT´s, continua a mostrar-se eficaz no alivio da sintomatologia em muitos pacientes 11.

Tratamento de FISIOTERAPIA
(melhor evidência atual)

A ultima revisão da literatura feita nesta área, sugere que a Fisioterapia tem efeitos significativos na diminuição da frequência e intensidade da CT crónica 12.

Outros estudos 11, 12, 13, indicam algumas opções de tratamento que demonstraram ser viáveis na diminuição da frequência da dor de cabeça e no aumento do bem-estar psicológico em pacientes com CT, tais como:

  • Fisioterapia qualificada e individualizada;
  • Exercícios de educação postural adequados/ergonomia no trabalho;
  • Programa de exercícios individualizado (exercícios cervicais, relaxamento);
  • Terapia manual na coluna cervical (mobilização vertebral e alongamento);
  • Técnicas crânio-cervicais;
  • Termoterapia;

A Manipulação Vertebral da coluna cervical, parece ser tão eficaz quanto a medicação (Amitriplina) na diminuição da dor a curto prazo (4-6 semanas) nas CT´s 13.

A Terapia Miofascial por Trigger-points, revelou ser eficaz na redução da frequência da dor de cabeça, quando aplicada a um grupo chave de músculos, numa população mista com CT´s episódicas e crónicas (follow up de 6 semanas) 14.

Alguns pacientes reportaram alivio de sintomas aquando do uso de compressas de gelo (Crioterapia) 5.

Programas de educação, que disponibilizam informação acerca de dor, sinais e sintomas e opções de tratamento apropriadas para as CT´s, revelaram-se eficazes na diminuição da intensidade e frequência da dor 5.

É consensual que a terapia manual ajuda a aliviar a dor e reduzir a tensão geral, devendo ser seguida de um programa personalizado de exercícios de fortalecimento e alongamento para melhorar a postura geral e o controlo muscular. Esta abordagem permitiu que parâmetros como a qualidade de vida, o impacto da dor e a incapacidade gerada por esta, assim como os aspetos de natureza psicológica, fossem melhorados 15.

Um abraço da sua equipa multidisciplinar

A FISIOGlobal

– Artigo escrito pelo Ft. Tiago Ferrete

Referências Bibliográficas

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  2. Mcdermaid C, Hagino C, Vernon H. Systematic review of randomized clinical trials of complementary/alternative therapies in the treatment of tension-type and cervicogenic headache. Complementary Therapies in Medicine. 1999;7(3):142-155.
  3. Crystal SC, Robbins MS. Epidemiology of tension-type headache. Curr Pain Headache Rep. 2010;14:449-454.
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  11. Brodie PJMCJJ. Tension-Type Headache. Tension-Type Headache – American Family Physician. http://www.aafp.org/afp/2002/0901/p797.html. Published September 1, 2002. Accessed April 3, 2017.
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  14. Moraska AF, Stenerson L, Butryn N, Krutsch JP, Schmiege SJ, Mann JD. Myofascial Trigger Point-focused Head and Neck Massage for Recurrent Tension-type Headache. The Clinical Journal of Pain. 2015;31(2):159-168.
  15. Espí-López GV, Arnal-Gómez A, Arbós-Berenguer T, González ÁA, Vicente-Herrero T. Effectiveness of Physical Therapy in Patients with Tension-type Headache: Literature Review. J Jpn Phys Ther Assoc. 2014;17(1):31–38.