Na FISIOGlobal tratamos o utente com artrose e não a artrose. Saiba porquê.

O que é a artrose?

O que provoca a artrose?

O que fazer para melhorar a artrose?

Melhores medicamentos para a artrose?

 

Artrose = artros (significa articulação em grego) + ose (significa desgaste em latim).

Todas as semanas na FISIOGlobal ouvimos estas questões, sendo compreensível porque na generalidade persistem ainda muitas dúvidas em torno daquela que é a doença reumática mais frequente. A osteoartrose, vulgarmente definida como artrose, afeta cerca de 1 milhão de sujeitos em Portugal. Estima-se que acima dos 60 anos, cerca de 90% dos indivíduos tenham artrose.

Facilmente se percebe que este fenómeno da artrose é, portanto, uma inevitabilidade biológica, porque tal como a pele e o cabelo mostram sinais de envelhecimento, também os ossos e articulações passam por esse processo com o passar dos anos. E é precisamente esta razão que faz com que alguns autores não falem da artrose como uma doença, uma vez que faz parte de um processo natural de envelhecimento.

Significa isto que nem todas as pessoas com artrose apresentam dor. Umas sim outras não. Tal como é possível uma pessoa “hoje” ter dor proveniente de uma artrose e “amanhã” não sentir dor, fruto de um processo de reabilitação adequado, onde a intervenção médica, da fisioterapia e otimização de estilo de vida do utente ocupam um lugar de destaque.

Durante muito tempo foi considerada apenas como uma patologia degenerativa, porém atualmente existem várias linhas de investigação que destacam uma componente inflamatória importante associada ao fenómeno da artrose. Estes achados têm repercussões fortes seja na avaliação seja no tratamento destes quadros.

As dores provenientes do quadro de artrose não surgem pelo processo de desgaste da articulação, porque a cartilagem que reveste a articulação não é inervada. Surge sim pela irritação inflamatória de outras estruturas que se associam com as articulações como osso, membrana sinovial, tendões, músculos, ligamentos e nervos.

Este desgaste articular pode surgir em qualquer articulação, sendo os locais mais frequentes os joelhos (gonartrose), ancas (coxartrose), mãos (dedos, punho e base do polegar – rizartrose), coluna lombar e cervical e os pés (base do 1º dedo – joanete/hallux valgus).

Os sintomas mais frequentes são dor, rigidez, limitação de movimento e em fases mais avançadas a deformidade articular. Pode existir ainda inchaço da articulação devido á inflamação (por exemplo nódulos nos dedos e acúmulo de líquido no joelho ou anca). As dores podem não estar apenas presentes na articulação com artrose. Por exemplo na artrose da anca (coxartrose) em fases mais avançadas é comum o utente sentir dor pela virilha e/ou coxa.

Comumente associa-se o surgimento da artrose ou a instalação de dor articular com a prática repetida de determinados movimentos. Infelizmente decorrente desta premissa, muitas vezes ouvimos que o utente deve interromper a prática de exercício ou de outras tarefas que envolvam a repetição de movimentos, porém, isto é um conceito obsoleto e castrador do utente que apresenta sintomas decorrentes de um quadro de artrose. É certo que a repetição de movimentos pode agredir a articulação e daí resultarem manifestações clínicas como dor e articulação inchada, mas esta agressão só ocorrerá ou será tanto maior, quanto menor for a robustez física do utente. Por robustez, entenda-se capacidade física para tolerar os esforços/repetição de movimentos a que é sujeito. Podemos dar um exemplo simples. Duas amigas, ambas com 60 anos, decidem fazer uma viagem de 4 dias para conhecer uma cidade na europa. Caminham vários quilómetros por dia. Uma das amigas tem hábitos de atividade física onde todas as semanas faz exercícios específicos que fortalecem as suas pernas. A outra amiga é sedentária.

A probabilidade de a amiga sedentária ficar com queixas articulares por exemplo num joelho ou coluna lombar decorrente dos vários quilómetros de caminhada é altíssima, porque o seu corpo não está habituado a tamanho esforço. Contrariamente a amiga que todas as semanas faz exercícios de fortalecimento das pernas não sentirá dificuldade decorrentes dos vários quilómetros de caminhada. Portanto, joelhos com 60 anos, com o desgaste natural da idade mas com respostas tão dispares… É assim forçoso educar o utente para a importância do exercício caso se pretenda aumentar a saúde articular. Pelo contrário evitar o exercício ou a repetição de movimentos não só agravará o quadro com o passar do tempo, como não o resolve.

Compreensivelmente muitos utentes com dor não sabem como fazer exercício, se o podem fazer, que cuidados devem ter, quais os melhores exercícios, quantas vezes devem fazer… e é precisamente aqui que o papel da fisioterapia é fundamental, onde um dos objetivos passa por munir o utente com competências para que todas estas dúvidas se dissipem.

A FISIOGlobal conta com cerca de 20 anos a estudar este fenómeno, o que nos permite ao dia de hoje, contar com uma equipa altamente diferenciada para o tratamento do utente com artrose. Centenas de utentes com artrose já nos confiaram a sua saúde e a taxa de sucesso é elevada. Nos últimos 8 anos conseguimos aprimorar estratégias terapêuticas o que faz com que sejam cada vez mais os utentes que nos procuram com este fim.

Na FISIOGlobal tratamos o utente com artrose e não a artrose. Isto é vital, porque qualquer utente com artrose deve saber que a artrose não tem cura, pois como já referimos a artrose faz parte de um processo de envelhecimento natural. Contudo, o utente que tem sintomas provenientes da artrose, deve ser ajudado para que possa obter melhor qualidade de vida. A abordagem ao utente é totalmente individual, significa isto, que diferentes utentes com artrose podem ser sujeitos a tratamentos diferentes. Um dos “segredos” está na qualidade da avaliação para que se possa perceber com rigor qual o melhor tratamento a seguir.

De forma geral e sem querermos particularizar, abaixo listamos exemplos de intervenções que a FISIOGlobal regra preconiza para tratar estes casos:

 

1. Fisioterapia + Medicina + Nutrição = sensibilização do utente para que perceba que a melhoria do seu estilo de vida se relaciona diretamente com o sucesso do seu tratamento. Gerir excesso de peso caso exista + otimização da qualidade do sono + aquisição de hábitos de atividade física, mesmo que adaptada em função das necessidades.

 

2. Fisioterapia = uso de a) terapêuticas passivas em fases mais iniciais do processo de tratamento, como a terapia manual e a neuromodulação percutânea ecoguiada que abordarão as estruturas que se relacionam com a articulação (osso, músculos, tendões, ligamentos, nervos…) para que se facilite e otimize o uso de b) terapêuticas ativas como o exercício clínico onde se pode também incluir a hidroterapia, que visam aumentar o grau de robustez de todas as estruturas que sustentam e protegem a articulação.

 

a. Uma meta-análise que se propôs a comparar o efeito do exercício com o efeito do uso de AINE (anti-inflamatório não esteroide como por exemplo o voltaren) e o paracetamol (principio presente por exemplo no ben-u-ron) no tratamento da osteoartrose do joelho e da anca de 17431 pacientes concluiu que o exercício apresenta um efeito analgésico similar ao uso destas substâncias químicas. O exercício é assim um tratamento efetivo e recomendado como terapêutica de eleição pela National Intitution for Health and Care Excellence para tratamento da osteoartrose.

 

3. Medicina = uso de terapêuticas que visam controlar a dor e melhorar o ambiente intra-articular da articulação que padece de artrose, como é o exemplo da artrocentese (aspiração de líquido articular), infiltração de ácido hialurónico (viscosuplementação), infiltração de plasma rico em plaquetas (PRP)/fatores de crescimento, neurólise por radiofrequência, esta última regra aplicada em casos em fim de linha onde muitas vezes o restante tratamento falhou e uma eventual cirurgia não pode ter lugar por por exemplo patologia cardíaca do utente.

 

a. Viscosuplementação com infiltração intra-articular de ácido hialurónico é tida como estratégia coadjuvante na abordagem à articulação com artrose porque a infiltração de ácido hialurónico exógeno consegue diminuir a produção de mediadores pró-inflamatórios e de metaloproteinases envolvidas na patogenia da osteoartrose, o que será determinante na redução de dor e melhoria da função da articulação tratada.

b. Um estudo de 2022 atesta sobre a eficácia do uso de PRP (plasma rico em plaquetas), vulgo, fatores de crescimento, como tratamento coadjuvante da artrose do joelho, referindo que após 1 mês da aplicação da terapêutica já se verifica redução da dor, sendo esta melhoria incrementada 6 meses após a infiltração com PRP.

 

c. Na FISIOGlobal também utilizamos a neurólise por radiofrequência com guia ecográfico no tratamento da artrose, incidindo nos nervos responsáveis por transmitirem dor, contudo, regra, não é a nossa abordagem de primeira linha. Esta terapêutica emprega-se, regra, quando as outras abordagens não nos demonstram resultados efetivos. Quando necessária os resultados são excelentes tal como a evidência científica atesta.

 

Na sequência, devemos ainda informar, que quando o tratamento conservador (ou seja, não cirúrgico) falha, a opção cirúrgica – artroplastia / prótese nos casos de artrose da anca e joelho – deve naturalmente ser equacionada pois apresenta resultados ótimos quando todas as outras estratégias falham. Aliás, por exemplo a cirurgia ortopédica para colocação de prótese da anca e do joelho são seguramente das cirurgias que maior evolução sofrerem nos últimos anos. Salientamos, porém, que em todos os casos de cirurgia para colocação de uma prótese o utente deve sempre e sem exceção ser acompanhado por equipa clínica especializada (fisioterapia + medicina + nutrição) para que possa realizar uma adequada recuperação da cirurgia.

Em suma pretendemos passar a informação de que os casos de artrose podem na generalidade dos casos melhorar de forma significativa quando o plano terapêutico é ajustado às especificidades de cada caso. Reforçamos que o uso de estratégias isoladas (por exemplo exercício ou terapia manual ou infiltração com ácido hialurónico) regra apresentam resultados pobres quando comparadas com estratégias que envolvem o utente numa abordagem global, isto é, o uso combinado destas diferentes estratégias clínicas.

Tratamos o utente com artrose e não a artrose!

Não nos esqueçamos que o utente tem ainda um papel absolutamente determinante na gestão do quadro, uma vez que o seu estilo de vida terá um impacto determinante na gestão dos quadros com artrose.

 

Alguns vídeos exemplificativos (clique nos títulos para poder ver os vídeos):

Infiltração intra-articular de ácido hialurónico em patologia do joelho.

Infiltração de PRP (plasma rico em plaquetas) numa artrose do joelho.

Testemunho de utente com artrose no joelho (gonartrose) e lesão no menisco.

Testemunho de utente com artrose na anca (coxartrose).

Testemunho de utente com artrose no joelho.

– Artigo escrito pelo Fisioterapeuta Ricardo Amorim

Bibliografia

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