Muitas vezes na FISIOGlobal ouvimos estas questões por parte dos nossos utentes, o que nos motiva a escrever um pequeno artigo sobre esta patologia. A artrite reumatoide é uma doença crónica, inflamatória, autoimune que se caracteriza pela inflamação das articulações e que se não for tratada convenientemente pode dar lugar a destruição quer de tecido próprio da articulação quer de tecidos que não se relacionam diretamente com a articulação.

Os utentes apresentam sintomas variados, sendo os mais frequentes dor e dificuldade em mobilizar as articulações que podem em alguns casos apresentar sinais inflamatórios evidentes (inchaço, calor e rubor). A presença de rigidez durante o movimento é ainda um sintoma típico particularmente no período da manhã ou após um período de repouso, sendo que em muitos casos é ainda reportada sensação de cansaço, sintomas de gripe e dor noturna que pode interromper o sono.

Caracteriza-se por acometer várias articulações nos dois lados do corpo, sendo que habitualmente em fases iniciais da doença as articulações mais distais são as mais acometidas (mãos e pés) progredindo para o envolvimento de outras articulações como os ombros, cotovelos, ancas e joelhos.

Sendo uma patologia autoimune significa que o sistema imunitário do utente não está a funcionar adequadamente, sendo ele próprio o responsável por agredir as articulações do utente, ao invés de as proteger. Não se conhece ainda a causa desta falha do sistema imunitário, porém uma interação complexa de múltiplos fatores genéticos, imunológicos e ambientais parecem ter relação com o surgimento da patologia.

O diagnóstico da artrite reumatoide deve ser tão precoce quanto possível para que se inicie o quanto antes a terapêutica mais adequada. Regra a avaliação que contempla o historial do utente, a recolha das suas queixas e exame físico são determinantes, sendo esta muitas vezes apoiada também no estudo de análises clínicas específicas, como por exemplo a velocidade de sedimentação e proteína C reativa, hemograma e fator reumatoide.

É uma doença que não tem ao dia de hoje cura, porém se for tratada de forma adequada apresenta um bom prognóstico em termos de funcionalidade. Afortunadamente os últimos anos foram importantíssimos para se apurarem terapêuticas para combater os sintomas decorrentes desta doença, onde o uso de medicação, assume um papel de destaque.

Porém, infelizmente muitos utentes acreditam que a única estratégia de tratamento é a farmacológica (uso de medicação). Se por um lado a importância do seu uso não é questionável, por outro também não é questionável (ou não deveria ser) a importância destes utentes serem abordados de forma multidisciplinar, onde o utente deveria ter sempre acesso ao médico, fisioterapeuta e nutricionista.

Na FISIOGlobal todos os utentes com artrite reumatoide:

1)Passam por processo de sensibilização por parte dos nossos profissionais de saúde que os acompanham para que saibam que a adoção de um estilo de vida saudável (fumadores devem deixar de o ser + prática de exercício físico + gestão adequada do peso + otimização do padrão de sono) tem um impacto marcado na gestão desta doença.

2)Têm acesso a médico para que se possa com rigor definir a medicação que melhor se adequa ao utente. Analgésicos, anti-inflamatórios, corticosteroides, injeções intra-articulares de corticosteroides, DMARDs (medicamentos modificadores da artrite reumatoide) clássicos ou biológicos são apenas alguns exemplos da medicação que pode ser usada.

3)Têm acesso a fisioterapia especializada, que deve ser adaptada em função das articulações acometidas e fase em que se encontra a artrite reumatoide. Existem 2 objetivos principais com a fisioterapia – 1) diminuir ou eliminar dor e 2) preparar o utente para os desafios diários sejam eles de lazer, laborais ou desportivos, onde o exercício clínico e a terapia manual assumem um papel de destaque.

4)Privam com nutricionista, porque apesar de não existirem evidências científicas fortes de que os utentes com artrite reumatoide beneficiem de uma mudança na sua dieta, caso exista excesso ponderal ou mesmo excesso de peso será determinante geri-lo, bem como garantir que o utente não apresenta uma alimentação que seja tendencialmente pró-inflamatória.

Posto isto fica claro que todos os utentes com artrite reumatoide devem ser acompanhados por equipas coesas e devidamente treinadas para fazerem face aos desafios da doença.

Não se tratam estes utentes apenas com medicação ou apenas com fisioterapia. Tratam-se, ou deveriam tratar-se, com medidas provenientes da medicina, fisioterapia e nutrição.

Não sendo um caso específico de artrite reumatoide, deixamos um testemunho de um utente que nos é muito querido também ele com patologia reumática – no caso espondilite anquilosante. Assista ao vídeo aqui!

Bibliografia

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